sábado, 27 de dezembro de 2008

Mito da cração (parte 4)

Com cada novo capítulo, eu vou conhecendo mais os meus personagens e a minha história, não muito diferente do que acontece com Jonathan e sua criação. De certa forma, creio que aquilo que contamos tem, em si, um pedaço de nós; e é muito gratificante ver que a história vai tomando uma vida própria, desenvolvendo-se como ela tem de fazer, e não de acordo com a vontade solene de um ser. Gosto de me enxergar como um narrador, que narra (notem a importância da palavra) fatos que poderiam ter acontecido. A história existe, e eu sou apenas o meio pelo qual ela se faz transmitir.
Agora, algumas coisas ficaram mais claras, alguns acontecimentos tomaram rumos que eu não pretendia inicialmente, e outros eventos estão mudando - lentamente. Sei que tudo isso pode ser bastante vago, mas não posso deixar de escrever o que está ocorrendo. De início, eu achava que a história se resolveria em 5 ou 6 partes. Hoje, tenho certeza que serão pelo menos 10. Até a Julia se apresenta, ela que nem estava prevista resolveu dar as caras. Outros eventos se extinguiram, e ainda há muitas surpresas pela frente.
Aos que frequentam o blog, lêem e comentam - ou não - agradço a preferência ;-)
E desejo a todos, se um pouco fora de hora, um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo.
Agora, à história.

Mito da criação... 4

Como combinado, Julia chegou meia hora depois de ligar, trazendo a pizza consigo. Enquanto ela levava suas coisas para dentro, Jonathan ia cortando sua janta. Julia havia pedido metade de pepperoni para ele e metade rúcula e tomates secos para ela, que estava de dieta – de novo.
Jonathan foi até a cozinha para pegar os pratos e os talheres e procurar algo para beberem. Quando retornou à sala, viu sua namorada comendo uma fatia com as mãos, sem dar muita importância à etiqueta. Ele sorriu e acompanhou-a no gesto, escolhendo para si um pedaço cheio de rodelas de carne.
Conversaram divertidamente enquanto devoravam a pizza entre goles de refrigerante e risadas, saboreando a companhia um do outro, engordurando-se com cada pedaço a mais. Trocaram assuntos, beijos e suspiros; e ao final, cansados, foram deitar-se. Não demorou muito, estavam ambos dormindo.
Seu sono, contudo, foi breve. No meio da noite, o celular de Julia começou a tocar uma música irritante, acordando os dois. Ela atendeu a chamada e arrumou suas coisas para voltar ao hospital. Um de seus pacientes havia tido uma recaída, e ela precisava vê-lo. Meio às pressas, ela beijou Jonathan nos lábios e pôs-se a sair.
Quanto a ele, já que estava acordado, resolveu que faria algo de produtivo, ao invés de rolar na cama por horas até pegar no sono.
Passou a recolher o que haviam comido e sujado para pôr tudo de volta no lugar. Limpou a sala e foi, em seguida, organizar a cozinha. E enquanto lavava os copos, ouviu um ruído no fundo de sua mente, uma voz fraca, indicando que havia ainda alguém ali. Na água, ele discerniu uma figura passageira, que aos poucos foi se tornando clara e transparente. Era Christian. Ele estava vivo.
Jonathan não perdeu tempo e foi correndo até o escritório. Tomou a lapiseira em mãos e pôs-se a escrever.
Imagens começaram a formar-se com cada linha, um sombreado escuro debruçava-se sobre a folha, revelando, de pouco em pouco, o que Jonathan tanto ansiava por saber. Algum tempo havia se passado desde que ele vira Christian pela última vez. Algo havia mudado em seu personagem após a luta com Adahn; que o marcou de tal forma e tão profundamente que estava agora irreconhecível.
Do papel, sua voz parecia erguer-se como um trovão, reverberando por todo o apartamento. Um eco de malícia e revolta, de orgulho ferido e ódio se fez ouvir, aprofundando-se no silêncio da madrugada. Christian não era assim. Não antes.
De repente, das linhas azuis, dezenas, centenas, milhares de vozes ergueram-se, falando sobre suas vidas, seus sonhos, seu futuro, e sua morte. Todas nas mãos e na espada de Christian.
Pequenas almas levantavam-se do grafite em tons de acusação.
Jonathan, assustado com a agitação, fechou o caderno, esperando com isso encerrar as vozes; mas elas surgiram em espiral, batendo forte contra os seus tímpanos. Ele virava-se de um lado para o outro em meio ao som do silêncio, procurando uma saída; mas estava cercado.
Enclausurado por suas próprias escolhas, ele reabriu o caderno, sentindo o peso dos olhares, dos tons de claro e escuro mesclando-se na folha, e fez a única coisa que poderia: contou a história.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Mito da criação (parte 3)

Perdão pela demora para atualizar o blog. Infelizmente, tive problemas de order profissional/pessoal/estudantil/...
De qualquer modo aos (poucos) que seguem o blog, eis aqui a terceira parte do conto.
Aproveitem:

Mito da criação... 3

A escrita jorrava de seus pulsos, descrevendo meticulosamente toda a ação que se desenrolava à sua frente. Homens lutavam, brandindo ferozmente suas espadas, envoltos por uma cortina de tinta que demorava a se abrir.
Jonathan percebeu que a velocidade com que escrevia não era a mesma com que a luta ocorria. Quando descrevia a morte do segundo cavaleiro, outro já agonizava no chão, implorando uma chance a mais a seu criador. Parecia pedir que o deixasse viver, que reeditasse a cena, tornasse-o o herói. Qualquer coisa.
Mas ele não entendia. Não era Jonathan o criador, era ele o narrador. A história era inevitável e implacável. Ela tinha de ser assim. Com um pesar nos olhos, Jonathan assistia quando mais um caía, trespassado pela lâmina de seu inimigo.
Quando ele enfim terminou de descrever o evento é que se deu conta que havia perdido quatro filhos àquela noite; os únicos que restavam de pé eram Christian e Adahn. Exatamente como ele previra. O herói e seu vilão. A Quimera de Belerofonte.
A tensão era palpável, e Jonathan conseguia senti-la no ar, que se tornara repentinamente pesado e austero.
A porta do escritório bateu atrás dele. Estava trancado. Sozinho com sua criação. Iriam lutar? Digladiar-se até que algum deles cedesse? Ou morresse? Ele precisava fazer alguma coisa. Impedir a autodestruição de seus personagens. Ao menos por enquanto. Não havia chegado a hora.
Ele, que fora tão impiedoso com seus outros filhos, suas outras idéias, batia-se agora para pensar em algo para salvar esses dois.
Pela janela diante da escrivaninha, vislumbrou a noite que havia surgido – quando? – e os postes que tentavam iluminá-la. Sem sucesso. Aquela luz fraquejante não era páreo para as sombras. Não agora.
De repente, a um canto, discerniu o vulto de um de seus personagens – qual deles? – disparando pela floresta. Jonathan levantou-se tão rápido quanto pôde e partiu em perseguição. Ele precisava impedir que tudo terminasse agora.
Estrelas soltas esforçavam-se em brilhar em seu caminho, mas a copa das árvores formava um telhado de trevas. Adiante, galhos de um lado e de outro da estrada – que estrada? uma trilha? – formavam um portão. Seria aquela a passagem de entrada ou de saída?
Mais um vulto. Dessa vez, atrás do sofá, no canto do escritório. Lentamente, Jonathan dirigiu-se para o local.
Nada.
Poeira, na verdade. Ele tinha de varrer. Depois. Mais tarde. Amanhã.
Sentou-se novamente e ficou olhando para a parede, remoendo-se. Olhou para a próxima página e notou que ela estava marcada por uma mancha escura. Sangue de alguém havia vazado e pingado. Tinha gosto de café.
Tomou a caneta em mãos e tornou a verter a história. Ela precisava ser contada. Christian e Adahn. Adahn e Christian. Seu herói não tinha chance.
O autor debruçava-se sobre o papel, escrevendo o mais rápido que podia, tentando acompanhar o movimento frenético dos dois combatentes. A luta era injusta. Desigual. Adahn levava ampla vantagem, e havia desarmado Christian. Nesse ponto, Jonathan simplesmente largou sua caneta, sua lapiseira, sua borracha, seu laptop, seu caderno, tudo, e pôs-se a assistir. Adahn estava de pé sobre um herói escorraçado, movendo seus lábios num sorriso malicioso. Quando ele tomou sua espada e lançou-a contra Christian, num movimento último, o telefone tocou.
Jonathan, assustado, levantou-se e atendeu. Era sua namorada, que havia ligado para avisar que iria dormir na casa dele hoje. Chamariam pizza.
Quando ele desligou o telefone, voltou o seu olhar para o caderno, ansioso pela conclusão. Mas não viu mais nada.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Mito da criação (parte 2)

Seguindo a programação, aqui vai a segunda parte do conto. E sem muito preâmbulo.
Divirtam-se!

Mito da criação...2

Perambulando pelo ínterim de sua invenção, Jonathan coletava todas as informações que precisava, complementando-as com pinceladas novas quando necessário.
Ele descobriu, enfim, o nome de seu protagonista – Christian – e o passado que tanto o atormentava. Em sua breve passagem, o autor vislumbrou dois irmãos e uma irmã, todos mais novos. E à medida que narrava os acontecimentos – da cavalgada pela floresta e o acampamento que montara junto dos outros cavaleiros – ia incorporando sua infância em Toulouse à história.
Não era necessário contar de como Christian partira para Paris com o mundo à sua frente e o diabo às suas costas. De seu árduo treinamento até juntar-se à cavalaria. Isso estava já descrito na ponta de sua borracha, que Jonathan ia passando para apagar tudo o que não fosse essencial à narrativa. Em breve, ele apagaria também as gotas de chuva e a luz do dia, restando somente a noite aos personagens em suas barracas. E o vento uivando sobre eles.
Quando terminou sua xícara de café, Jonathan empurrou-a para longe, deixando-a próxima de uma trilha, onde corria a palavras rápidas e bruscas o homem que Christian e sua trupe tanto procuravam. Ele corria como podia, caindo a cada duas ou três linhas. Seu desespero era latente, e Jonathan levantou-se de seu lugar para dar-lhe passagem e assistir à cena com atenção.
O autor acompanhou de perto a dor e o sofrimento do seu próprio personagem, sentindo um aperto no peito enquanto media as palavras para transcrever a visão que teve.
O grafite vertia no papel tal qual lágrimas de ódio e tristeza. Cada expressão usada era um passo dado; cada pingo em cada i, uma gota de suor.
Sentindo a testa úmida, Jonathan levantou-se e foi até o banheiro. Ligou a torneira e molhou o rosto de leve, secando-o diante do espelho. Ao fundo, alguns passos atrás de si, ele discernia a cena seguinte, o que estava para acontecer. O inevitável desfecho.
Saiu do banheiro e pegou a xícara vazia na escrivaninha. Largou-a na pia da cozinha e voltou para o escritório a passos lentos. Sentia seus ombros arqueando com o peso da responsabilidade.
Sentou-se na cadeira e mirou a folha. Releu o que tinha escrito e corrigiu algumas coisas. Aí, respirou fundo e armou o encontro.
Christian, Adahn e companhia atravessaram a imensidão de papel e chagaram ao seu destino, ao homem que procuravam.
Jonathan colocava mais grafite em sua lapiseira enquanto os cavaleiros sacavam suas espadas. O cheiro de ferro queimado era a borracha contra o papel, a lâmpada no corredor que piscava e se recusava a permanecer acesa.
Antes de prosseguir, Jonathan levantou-se uma vez mais e foi ao banheiro. Olhou para o espelho e observou, ao fundo, tudo o que estava para acontecer.
Sentiu suas mãos molhadas e vermelhas quando voltou para o escritório. Dessa vez, usaria a caneta. O sangue em suas mãos era a tinta que se espalhava pelo papel e que escorria de seus personagens a cada golpe de sua imaginação.
Ao fim da página, havia cometido seu primeiro assassinato.
E viu que gostava.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Mito da criação (parte 1)

Como finalmente entrei em férias da faculdade, pensei em iniciar esse período me ocupando, e resolvi criar um "projeto" no site. Recentemente, tive uma idéia para uma história, e sabendo que ela seria maior do que o que eu normalmente escrevo, decidi publicá-la em partes. O ideal é que seja publicada toda segunda-feira (iniciando hoje, dia 08/12/2008).
Ainda não sei em quantas partes, pois não terminei de escrever, mas já estou finalizando as próximas duas e começando a escrever a quarta. Imagino que pelo menos seis sejam necessárias (embora eu esteja apenas conjecturando).
Como sei que esse projeto é um tanto experimental, estou aberto a todo tipo de críticas. Desde já, espero que aproveitem e gostem, e que queiram continuar lendo depois desta primeira parte.
Agora, sem mais delongas, o conto:

Mito da criação

Jonathan desligou a televisão e levantou do sofá, caminhando vagarosamente até o quarto. Abriu uma gaveta a um canto de sua cabeceira e puxou um caderno fino. Folheou-o preguiçosamente, contando o número de páginas escritas – apenas seis – e tornou a fechá-lo, carregando-o debaixo do braço até a escrivaninha do escritório. Separou o material que usaria – uma lapiseira grafite 0.7, uma borracha, uma caneta tinta preta e seu laptop, aberto para pesquisas e referências – e sentou na cadeira.
No entanto, olhando do caderno para a mesa, sentia que faltava alguma coisa… Coçando a cabeça de leve, ergueu-se e foi até a cozinha. Pegou uma caixa de leite e deixou que seu conteúdo escorresse para dentro de uma caneca. Aqueceu-a no microondas e, após, derramou-lhe uma colher de café e duas de açúcar.
Ao fim do processo, voltou para o escritório e soltou a caneca à direita do caderno, ao alcance de suas mãos. Tomou um gole – queimou sua língua de leve – e colocou-a de volta. Enfim, abriu o caderno.
Há algum tempo havia tido uma idéia para uma história, mas só agora achava que ela havia amadurecido o bastante para colocá-la no papel. Fechou os olhos e contou até dez, respirando profundamente. Aí, tornou a abrir os olhos e concentrou-se na escrita.
Com sua primeira linha, sentia a chuva caindo de leve. A água escoava de suas mãos para o grafite, e a cada palavra, uma nova árvore nascia. Ao término da primeira frase, ele estava num bosque. Ao fim do parágrafo, era uma floresta.
Até a chuva havia aumentado, caindo a letras grossas sobre o papel. O cheiro de terra molhava exalava de cada linha, e o vento uivava a cada movimento de sua mão, soprando ora com calma, ora com vigor.
De repente, ao longe, ele ouviu o som dos seus primeiro personagens se aproximando. Eram cinco, e montavam cavalos pesados e fortes. Sua trupe estava em busca de algo, ou alguém.
Estavam cercados por lobos de borracha e predadores de papel, espreitando a todo canto. Quanto a Jonathan, ele não tinha o que fazer senão encontrar o personagem principal. Em poucas frases, o autor deu-lhe uma armadura sobre os ombros e uma espada à cintura. Com algumas linhas grossas, viu nascer-lhe um cabelo escuro e comprido. Contudo, a luz do seu computador dava-lhes um tom castanho e profundo.
Aos outros personagens, ele dedicou não mais que um gole de café. Exceto ao líder da comitiva, Adahn. Como bom antagonista, esse merecia dois goles e um esmero especial.
Jonathan levantou-se do chão embarrado e foi sentir o vento e a chuva. Deu alguns passos pela casa, esquivando-se de eventuais galhos e árvores, aproveitando para observar o ambiente. Cada grão de areia, cada gota de suor, cada pingo de orvalho, cada raio de sol, cada nuvem no horizonte, cada futuro sombrio e incerto, cada passado obscuro e tenebroso, cada momento presente, cada amor impossível, cada amizade sincera. Sem perceber, ele deixou-se levar pela imensidão da própria criação, e saiu à procura de tudo o que necessitava.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

2/2

Posto aqui o segundo texto curto que escrevi recentemente. Foi escrito nos mesmos moldes e é, talvez, o predecessor do outro. Muito provavelmente. hehehe
Antes, contudo, eu gostaria de "prestar um esclarecimento"; apesar de eu achar que um autor não deveria ter de explicar o seu texto, vou abrir uma exceção, até porque, talvez só eu note um "sutileza" que tentei empregar.
Lendo os comentários, vi que um me disse que "me perdi na descrição, e deveria ter investido mais na situação". Como eu disse antes, esses textos são como um experimento lingüístico, e uma experiência que eu fiz - que considero apenas parcialmente satisfatória, mas foi um bom aprendizado - foi usar o cenário, o meio, como metáfora para o enredo. Tentar passar, através do cenário, a emoção, a sensação e a história do que está acontecendo. Por isso um quarto fechado e escuro, que mal permite luz. E quando permite, nunca é o bastante para compreender o outro, servindo apenas para tragar o seu cheiro - e não mais. Ou o fogo da paixão que é inevitavelmente consumido pela escuridão do quarto, esse "eu" que não se abre nem se permite mais.
Vamos ver como ficou este segundo texto, portanto.

Relógio

Ela organizava as malas fingindo um consentimento, uma calma, sem perceber que suas mãos, desobedientes como eram, entregavam o seu nervosismo; sem notar que os seus lábios cor de amor trajavam um tom mais semelhante à escusa e à descrença. Seus olhos levemente avermelhados organizavam as roupas diante de si, dobrando tudo com pesar e dedicação.
Ela olhou o relógio a um canto: 15:30. Engoliu em seco.
Foi até a cômoda e tomou um porta-retrato rapidamente entre os dedos, jogando-o na mala com pressa, como se não quisesse que alguém testemunhasse o ato. Sequer olhou a foto ali presa. Já sem demora, cobriu-a com um punhado de roupas amarrotadas, escondendo o seu conteúdo.
O relógio agora apontava 15:32. Dois minutos. Dois minutos.. Dois...
Quantos mais?
Tirou de sua bolsa um cartão que havia escolhido para uma ocasião especial e colocou-o à escrivaninha. Ainda ela podia sentir o calor e o sentimento que o haviam motivado. Eles bailavam pelo ar diante dela, irritando ainda mais os seus olhos.
Trancando a respiração, olhou uma vez mais para o relógio: 15:33.
Sentou-se na poltrona e ficou olhando pela janela, movendo suas mãos agitadas uma contra a outra, deixando escapar naquele gesto um pouco de si. Uma parte que ela não recuperaria mais.
O sol claro – muito mais do que deveria – fazia especial esforço naquele dia. Nem o seu cabelo escuro pôde resistir, refletindo como um espelho uma pequena dose de castanho.
15:36
Ela enfim levantou-se, não podendo mais quedar-se ali. Fechou a mala, ouvindo-a gritar tão alto como nunca. Um som estridente jorrava do zíper como uma cascata, até que secou. Ela já estava saindo quando se deu conta da última coisa que deveria fazer. Voltou-se para a janela com a intenção de fechá-la por inteiro, de nunca mais permitir que um tom castanho fosse refletido. Contudo, restou uma pequena fresta pela qual um filete acinzentado invadia o seu santuário e marginzalizava-o com sua presença. Ela o encarou com pesar e, viu, por ele, 15:37.
Fechou a porta atrás de si.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

1/2

Escrevi dois textos (curtos) recentemente - mais por impulso que por qualquer outra coisa. Não sei porque, mas tive que escrevê-los e trabalhá-los. Não são contos, ao menos pela minha concepção. Eu os considero mais um experimento lingüístico (se bem que tem tanta coisa que a Virgina Woolf escreveu e os professores de literatura juram que é conto...), e resolvi publicá-los aqui, até como um exercício. Assim ouço quem quiser comentar e seus respectivos "pitacos". hehehe
Eis o primeiro:

Cartão

Ele entrou no quarto escuro, percorrendo vagarosamente o seu interior. Guiando-se por entre os poucos móveis, chegou à escrivaninha. A janela entreaberta permitia a entrada de uma luz pálida, projetando-se em filetes inconstantes dentro do cômodo. Uma penumbra leve e suave encobria-o, abafando o som de seus passos e ecoando ao ritmo de sua respiração.
Ele estendeu a mão e puxou um pedaço de papel sobre a escrivaninha; o cheiro dela espalhou-se repentinamente pelo ar, iluminando o quarto com sua cor adocicada. Ele ergueu a mão e levantou a persiana, permitindo que mais luz adentrasse o vazio.
O seu rosto foi banhado por uma coloração de mofo prateada, revelando o leve desgosto de seus olhos pardos. Um quê de arrependimento flutuou pelo ambiente, transformando o doce em amargo e o prata em negro.
O pedaço de papel era um envelope claro – assinado por ela, como ele já havia antecipado – dentro do qual haveria sua mensagem. Ele não precisava ler o que estava escrito. Tomou o cartão por entre as mãos e abriu-o, empurrando-o contra o nariz, tentando tragar até a última gota do perfume. Um gosto gelado invadiu-o de repente.
Fechou, então, o cartão, e guardou-o novamente no envelope. Depositou-o gentilmente sobre a mesa e sob uma luz inconstante, que teimava em tremular contra a sombra. Um tom vermelho escapava a cada bruxulear, topando com a escuridão. Não demorou muito até ser completamente devorado por ela; ao fim do que, ele fechou a janela e deixou o quarto.
E o cartão, mesmo insatisfeito com o próprio destino, deixou-se estar, e até hoje guarda pó na gélida escuridão.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Da tradução

Desde que a idéia de traduzir um conto me veio à cabeça, também pensei em discutir alguns dos pormenores da tradução. Eu sempre achei que, quando um tradutor é bom, ninguém lembra que ele existe, nem que aquilo que estão lendo vem de outra língua. Ele faz (ou deve fazer) com que o texto "soe" (do verbo soar) português (ou inglês, francês, japonês, russo, etc).
Contudo, durante esse processo, há uma série de decisões que devem ser feitas. Não somente isso, há todo um contexto a ser respeitado e que, muitas vezes, pode alterar a percepção que se tem de um texto. Um texto escrito em inglês carrega com ele todo o contexto social em que foi escrito. Há situações e termos que, no contexto americano, significam x. No contexto brasileiro, y. Por exemplo, se falarmos de futebol aqui, vem com esse assunto tudo que se sabe a respeito do esporte no nosso contexto. Se traduzirmos esse texto para inglês, por exemplo, teremos outros valores agregados ao esporte. Possivelmente, dependendo da importância do jogo para o texto, não duvido que o tradutor optasse por converter esse "futebol" em "baseball" (tomando, é claro, os Estados Unidos como parâmetro).
No texto que eu traduzi no post anterior, Suicídios de Amor existem num contexto muito específico do Japão. Existe um "cargo" que é o "omiai" ("O" de respeito, "MI" de ver, e "AI" de encontro). Essa pessoa é uma testemunha de casamentos arranjados que existem lá. E existem muitos. É muito comum os casais nem se conhecerem antes do casamento, resultando numa união por interesse, que nem sempre dá certo. Como o interesse familiar lá é muito grande, não é raro haver casais que mal conhecem o parceiro. Numa sociedade machista, o homem sai para trabalhar e a mulher fica em casa cuidando dos filhos.
Por isso, quando um casal se ama, acontece de eles combinarem o que chamamos de "suicídio de amor", "suicídio por amor" ou "duplo suicídio". Creio que é a isso que o texto se refere. A um casal que se ama, mas que só pode ficar junto (nessa sociedade machista) na hora de sua morte.
Essa é a questão cultural que pode elucidar alguns aspectos do texto, ou no mínimo enriquecer suas possibilidades. Em outros aspectos menos urgentes para a trama, mas igualmente importantes para a tradução, escolhi manter o termo orignal "hashi", que são os "pauzinhos de comer". Ao menos, para manter o nível da linguagem, e não manchar um texto sensível com esse termo. Sobre a "tigela", primeiro traduzi por "prato", pensando em diminuir a distância entre a nossa realidade e a deles; mais adiante no texto, contudo, percebi que havia muitos termos estrangeiros para fingir que tudo poderia acontecer exatamente aqui no Brasil, e acabei voltando atrás, deixando os utensílios culturais mais visíveis. Da mesma forma, a mesa que a mãe joga no chão, traduzi por "mesinha". Na tradição ocidental, as mesas são usadas para comermos sentados em cadeiras. No japão, as pessoas sentam no chão para comer, daí uma mesa pequena, que a mulher poderia facilmente erguer e arremessar. Quem assiste animes ou filmes japoneses deve conhecer.

Basicamente, era isso que eu queria escrever, trazendo à luz um pouco do trabalho do tradutor, além de mostrar algumas pequenas escolhas que ele deve fazer durante o processo tradutório, independentemente do tamanho do texto. Espero que tenham sido bom, e que tenham gostado.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Suicídios de Amor

Como eu havia prometido, trouxe aqui o conto traduzido para o português (por mim). Para quem quer conhecer mais sobre o autor, Yasunari Kawabata, basta ler meu post anterior, entrar na wikipedia, ou pedir, que pode ser que eu traga mais coisas sobre ele. Sem mais demora, o conto:

Suicídios de Amor
Chegara uma carta de seu marido, um homem que de tanto desprezá-la, a havia abandonado. Aquela era a primeira em dois anos, e havia sido enviada de um local distante do país.
“Não deixe nossa filha brincar com a bola. Eu posso ouvir o som, e ele bate contra o meu coração.”
Ela tirou a bola de sua filha.
Outra carta chegou de seu marido. Essa tinha um selo diferente da anterior.
“Não deixe a nossa filha usar sapatos quando for ao colégio. Eu posso ouvir o som, e ele pisa ruidosamente contra o meu coração.”
Ela deu à filha sandálias de sola macia para usar ao invés dos seus sapatos. A menina chorou e enfim deixou de ir à escola.
Outra carta chegou de seu marido. Fora enviada apenas um mês depois da segunda, mas por sua escrita, ficava aparente o quanto ele havia envelhecido em tão pouco tempo.
“Não deixe nossa filha comer arroz da tigela de porcelana. Eu posso ouvir o som, e ele quebra o meu coração.”
Ela deu de comer à filha com seus próprios hashis como se ela ainda fosse um bebê. E ela lembrou-se de como, quando sua filha ainda era um bebê, o seu marido sentava-se sorridente ao seu lado. A menina foi até os armários e pegou sua própria tigela de arroz sem pedir permissão. A mãe imediatamente arrancou-a de suas mãos e jogou-a violentamente contra uma pedra no jardim. O som do coração de seu marido quebrando. Ela então franziu o cenho, enfurecida, e jogou sua própria tigela contra a pedra. Não era aquele o som do coração de seu marido quebrando? Ela jogou a sua mesinha de jantar no jardim. E aquele som? Ela jogou-se contra uma parede e socou-a com vontade. Arremessou-se como uma lança contra uma parede de papel e rolou do outro lado da partição. E aquele som?
“Mamãe, mamãe, mamãe.”
Ela gentilmente batia nas bochechas de sua filha. A menina veio correndo atrás dela em lágrimas. Ohh – ouça o som!
Outra carta chegou de seu marido. Era como um eco do som. Esta era enviada de um lugar diferente, ainda mais distante que os anteriores.
“Vocês duas devem parar de fazer qualquer barulho. Não abram nem fechem portas. Não respirem. Nem permitam que sequer os relógios façam som algum.”
“Vocês duas, vocês duas, vocês duas…”, murmurando essas palavras, ela chorou copiosamente. E desde então elas não fizeram som algum. Elas pararam por toda eternidade de fazer até o mais ínfimo som. A mãe e a filha morreram.
E, por mais estranho que pareça, seu marido morreu com elas, seu travesseiro ao lado do delas.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Yasunari Kawabata

Em primeiro lugar, eu gostaria de agradecer a todos que comentaram meu blog recentemente e me incentivaram/criticaram. Não sou daqueles que leva críticas pelo lado pessoal. Sei que, na maioria das vezes, elas no mínimo servem como um contraponto, ajudando a ver o próprio trabalho de um jeito diferente. Levo em conta todas que recebo :)
Bem, semana que vem eu irei viajar, o que muito provavelmente significa que não entrarei no msn (coisa que não tenho feito nem ultimamente... perdão a quem me adicionou, mas estive atarefado com trabalho, leituras, estudos, etc.), nem no orkut, e talvez nem aqui por mais de uma semana. Sei que não atualizo com muita freqüência, até pelos motivos já elucidados (que palavra bonita, não?), mas não gostaria de ficar mais um tempo sem mexer por aqui.
Não produzi nada de grande relevância recentemente (tenho tentado montar aquele conto de que falo a horas, Faerie ou Isabela e o Cavaleiro, mas infelizmente, estou bem trancado na canção...), mas para não deixar ninguém de mãos vazias, traduzi um conto de um autor Japonês - Yasunari Kawabata - para o seu divertimento. Para quem não conhece (que deve ser algo em torno de 99% de quem freqüenta o site), ele foi o primeiro japonês a vencer o Nobel de literatura, e, de acordo com ele mesmo, as narrativas curtas formava o centro de sua produção literária. Não bastasse isso, próximo do fim de sua carreira, ele foi direcionando a sua criação cada vez mais para o reino do surreal e do misterioso. Daí, para quem já leu os meus contos, já deve ter visto muita semelhança (eu meio que elegi ele o meu padrinho...).
Não vou me comparar a ele, claro. Pelo menos, não ainda. Quem sabe no futuro. É como um aluno que admira o professor, que quer aprender todo o possível dele, e enquanto pode, suga todo o conhecimento. Para quem quiser conhecer suas narrativas curtas, pegue o livro: Contos da palma da mão. Eu infelizmente não tive a oportunidade de ler o livro, apesar de já conhecer algumas histórias.
Como esse post já está se alongando, prometo que publico a tradução (de minha autoria) de um dos contos na próxima quinta-feira, antes de viajar.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Fumaça e espelhos

Como escrevi um conto bem curto, resolvi postá-lo no corpo do blog mesmo (mas para os puristas, irei colocá-lo no site). Até porque, assim fica mais fácil para quem quiser, ler e comentar. Abraço a todos.

Fumaça e Espelhos

Ele levantou cedo da cama, desligando o despertador que insistia em tocar ruidosamente ao seu lado. Roçou a cabeça de leve, desarrumando sua cabeleira negra. Passou a mão pelo rosto e sentiu a barba rala que se aventurava até o meio o pescoço.
Tirou o lençol abarrotado de cima da cama e levantou-se, abrindo os braços finos e compridos para espreguiçar-se. Esfregando os olhos, caminhou até o banheiro, onde tirou o pijama e ligou a água do chuveiro. Lavou-se vagarosamente com a água morna, despertando de gota em gota.
Saiu do chuveiro e puxou uma toalha, que todas as noites deixava pendurada no box para não ter que passar trabalho pela manhã. Ainda pingando sobre o chão gelado de mármore, lambuzou o rosto com creme de barbear e puxou sua gilete.
Sobre a pia do banheiro, havia um espelho que ele usava para fazer a barba. Começou passando a lâmina pela face esquerda, prestando atenção em sua imagem para não errar. Quando terminou aquele lado, lavou a gilete na pia para tirar o excesso de espuma.
Nem teve tempo de perceber sua imagem refletida estendendo a mão para fora do espelho e, num movimento rápido, rasgar-lhe a garganta.
Sem emitir um ruído sequer, deslizou até o chão, sentindo um arrepio frio em seu pescoço.
Sua imagem estava imóvel, observando-o com um sorriso malicioso. Apenas mais tarde, apercebendo-se de sua própria natureza, é que enfim sentiu um corte profundo na garganta e caiu, sangrando até a morte.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

sexo: oral anal facial vaginal ...

Eu notei uma coisa bem interessante recentemente. Assim que eu falei de sexo em um dos meus posts, a visualização do meu profile e do meu blog cresceram. Quando eu parei de falar disso, contudo, não tive mais comentários. Coincidência? Eu acho que não...
Portanto, resolvi colocar no título do meu post várias palavras relacionadas a sexo para ver se o meu público cresce. Deu certo?
Mas não é apenas por isso. Eu também publiquei no site, enfim, o meu primeiro conto erótico: Um caso de amor. Eu havia prometido colocá-lo no ar faz algum tempo, mas só consegui agora. Digo o seguinte: foi uma experiência muito interessante, frustrante e benéfica ao mesmo tempo. Como é difícil escrever sobre sexo sem parecer vulgar, tentando tratar disso com naturalidade e romance. No todo, acho que o conto funciona (especialmente pelo final, que tenta "quebrar" algumas imagens) não só como uma descrição, como também como ação e exercício de linguagem.
Quanto ao outro conto que havia prometido, Faerie ou Isabela e o Cavaleiro, esse vai demorar um pouco mais. Estou um tanto atarefado no momento (com provas, leituras e o próprio trabalho se espremendo na minha frente, não me dando espaço...), e não pretendo lançar este texto antes de ter certeza de que fiz o meu melhor por ele e que cheguei ao ápice do que eu podia. Até este momento, sei que não cheguei lá. Portanto, esperemos.

Aos que chegaram ao final do post, obrigado pela atenção, e bom sexo!

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Um segredo revelado

Bom, seguindo mais um post, resolvi escrever do porquê da demora dos updates. No último post, esclareci alguns motivos, mas faltou um. É o seguinte. Um autor americano irá publicar um livro de contos inéditos contendo apenas histórias de "mistério, fantasia, terror, suspense". Tudo nessa linha. E como eu disse antes, trabalho como tradutor. Resolvi, então, pegar alguns dos meus contos e mandar para lá (traduzi "Frank" e "O Guardião"), além de ter escrito outro conto em inglês, inédito em português, chamado "The Masquerade of Sins and the sacrifice of the thirteenth", uma história contada quase que exclusivamente em diálogos (tem 26 páginas no word, das quais 21 são diálogos) sobre sonhos e a escrita. É um tipo de meta conto metafísico. Deu pra entender?
Até, se alguém quiser, posso postar no site esse conto (em inglês), mas se ele for aceito, assim como os otros dois, terei de tirá-los do ar. Pode ser uma chance única de ler sem ter que pagar! (a menos que não seja aceito, e no caso eu esteja fazendo papel de idiota).
Eu pensei bastante a respeito também, e decidi colocar o meu msn aqui, caso algum fã(!) queira conversar e trocar alguma idéia. hehehe

msn: mehazael@hotmail.com

Um abraço a todos! Agora, se me dão licença, tenho coisas para ler...

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Próximo, por favor!

Bom, não sou uma pessoa de muitos updates, até porque tenho andado meio ocupado ultimamente. O primeiro motivo, que não sei se interessa, muito, é pelo meu trabalho como tradutor. O pessoal adora me mandar trabalhos "pra ontem", aí eu tenho que me virar. E diga-se de passagem, de áreas bem técnicas, nada de tradução literária (nunca traduzi contos de ninguém mais que não fossem os meus). Do e para o inglês, se alguém tiver curiosidade de saber.
O segundo motivo, por outro lado, é de interesse de quem freqüenta o meu site/blog. Sei que não é muita gente, mas acho que por isso mesmo tenho que dar mais valor. Se tiver alguém aí, um viva para você! Prosseguindo, estou finalizando dois novos contos, que pretendo colocar no site assim que possível. O primeiro, chamado Faerie ou Isabela e o Cavaleiro é uma história que envolve fadas e canções. Em geral, não é um tema com o qual eu tenha uma grande afinidade, mas esse eu me diverti muito escrevendo. Quem gosta de humor negro possivelmente vai se interessar. O difícil é uma balada que estou escrevendo/traduzidno. Nunca pensei que fosse tão difícil...
O outro conto se chama Um caso de amor, e é o meu primeiro conto erótico (para os taradinhos de plantão...). Vamos ver como fica. Eu gostaria de ter lido Anaïs Nin antes de tê-lo escrito, mas infelizmente eu não consegui. Estava para escrever esta história faz algum tempo, e como não tive a oportunidade de lê-la até agora, decidi que iria tentar por mim.
Há ainda um terceiro motivo, envolvendo tradução, mas esse ainda não pretendo contar. Se tudo der certo, a partir do mês que vem (provavelmente o próximo post, no ritmo que estou indo ^^") já posso revelar o que se passa.
Obrigado a todos que me visitaram e especialmente a quem me deixou comentários. Um abraço especial à minha grande amiga Adri (que me incentivou a criar um blog) e ao Roberto Colombo e ao Bruno Cobbi, que me adicionaram aos blogs deles (origaming.blogspot.com e aprendizdeescritor.com.br respectivamente). E sabendo que a justiça tarda mas não falha, outro pro Expresso Hogwarts, que me indicou no site. Visitem!

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

A miragem

Ontem no orkut, me foi feita uma pergunta bem interessante, para a qual eu, de certa forma, tenho a resposta. Mas que, também, só serve para mim. A pergunta era: "se estivesse no desrto do seu Eu, que tipo de miragem você acha que teria para satisfazer suas necessidades poéticas?"
Isso diz respeito justamente ao porquê de Miragens no Deserto, o porquê desse contexto, desse cenário. Isso tem a ver com um amigo meu, que, alguns anos atrás, foi para o deserto participar de uma corrida e, na volta, me contou essa história.
Ele diz ter visto uma miragem. Que no calor escaldante, quando ele e sua equipe haviam parado o carro, ele viu alguém ao longe. Uma mulher trajada em roupões brancos e opacos caminhava lentamente pela maresia arenosa, em direção a eles. Quanto mais próximo ela chegava, melhor podiam discerni-la, e quando ela estava a poucos metros, viram que uma nuvem negra cruzava o infinito sobre sua cabeça, fazendo-lhe sombra. Então a nuvem trovejou, e desapareceram ambos.
Esse foi o relato - evidentemente, procurei "embelezá-lo", até porque não me recordo de todos os detalhes. Mas essa percepção de um andarilho no deserto, vigiado pela chuva que não cai, ficou marcada em mim, e inspirou muito do que eu escrevo. Sempre que penso nos meus contos, nas Miragens no Deserto, me vem essa imagem jamais vista. É justamente a que mais me marca, porque por mim foi criada conforme as minhas necessidades.
E é ela que me satisfaz.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Obrigado, Gracias, Merci, Arigatô, etc.

Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a todas as pessoas que comentaram o meu site, seja aqui no blog ou no meu orkut. Obrigado por, de pouquinho em pouquinho, darem visibilidade ao site e me ajudarem a cumprir as minhas expectativas. Ainda estou só começando, mas vamos lá!
Segundo: uma coisa que me chamou a atenção (que pode ser tanto um elogio quanto uma crítica) é que, até este momento, as pessoas só comentaram os contos curtos. O mais comentado é o 'Coisas de criança'. Só tem duas frases - curtas. Fico imaginando se meu poder de síntese e de criar pequenas narrativas é tão grande assim que consigo transmitir todas as idéias em tão pouco espaço.
O outro conto mais comentado é o Frank. Que é um dos meus favoritos. Quem gostou, pode esperar que o Jonas volta. E se preparem para conhecer a Adriane. Ela é importante. Muahahahaha! Mas isso fica pra depois.
Acho uma pena também, já que outros contos que gostei muito de escrever foram '11 de Outubro, 2001' e 'Theatro dos Sonhos'. Este último baseado em fatos reais. São um pouco maiores, é verdade, e sei que nem todo mundo tem tempo de ler esse tipo de narrativa, mas nos meus sonhos todo mundo lê e me ama...
Bom, sei que já estou enchendo o saco aqui, então já vou me despedindo. Como estou há algum tempo sem postar nada, tinha bastante coisa para falar. Ainda tenho, na verdade, mas vou guardar isso pra depois.
Um abraço a todos que comentaram, aos que ainda vão comentar, e aos que só leram sem dizer nada - mas o de vocês é menor :P

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Dos updates

Bom, como o site ainda é novo e eu estou em processo de divulgação, não vou ter muito tempo para updates. Pelo menos, por agora. Basta saber que ainda tenho alguns contos no HD que quero dar uma revisada, limpar, etc. Pretendo colocá-los no ar assim que possível.
Contudo, quem me conhece sabe que isso não é fácil, já que eu sou feito uma criança na hora de me concentrar. Fico imaginando coisas novas, crio histórias e contos e no fim, acabo deixando tudo pela metade. Bem, estou tentando me policiar e dar um jeito nisso. O que, também, pode significar alguns atrasos no site, já que tenho alguns projetos paralelos que preciso finalizar.
Mas depois disso, estarei livre (quando o "depois disso" será, contudo...).
O que importa é que vou continuar atualizando o blog e dar uma olhada aqui. Mandem perguntas, críticas, sugestões, etc. Ou quem quiser, visite a minha página no orkut, meu nome é Miragens (para facilitar, estou em comunidades como "Escritores de Fantasia", "Amantes de contos" e "Sonhar".
Bom, abraço a todos e boa noite.
:D

domingo, 31 de agosto de 2008

Enfim

Pronto!
Finalmente, fiz o que eu havia prometido (a mim mesmo). Criei o site com meus contos e publiquei na rede. O link está no topo da página, à direita. Quem veio de lá, sabe do que eu estou falando; quem achou este blog, agora pode visitar o site!
Boas leituras!

Miragens...

Bom, sendo novo na web, achei melhor, antes de mais nada, me apresentar. Eu sou um aspirante a escritor e, por isso mesmo, achei uma boa idéia publicar os meus textos na internet para poder mostrar o meu "trabalho". Assim, espero que outras pessoas possam ler, apreciar (!) e mandar suas opiniões.
Eu ainda sou novo nisso, e tenho que pegar o jeito, então espero que me aguentem. hehehe

Bem-vindos!