quinta-feira, 15 de outubro de 2009

De liberdades e afins

Pois é, dessa vez consegui atualizar na quinta; contudo, seguindo a linha das últimas semanas, também estou um pouco sem tempo. Sei que essa desculpa já não deve estar mais colando, mas eu tenho uma boa explicação para estar assim. E ela se chama Nihongo no ryoku shiken. Para quem não conhece, é uma prova de proficiência em japonês. Vai acontecer dia 06/12, e estou me preparando ardentemente para ela. Por que?, vocês perguntam? Porque, eu respondo, se conseguir uma boa nota, poderei pleitear uma bolsa de estudos no consulado japonês (tem um aqui em Porto Alegre) para estudar lá por dois semestres (e, quem sabe, até um mestrado ou doutorado. Um colega meu foi no início de Outubro, há duas semanas). Eis a razão de tanta demora (e de por que eu ter estado tão focado em japonês em certo momento. Era mais fácil me concentar nessa matéria devido ao volume de estudo recente. Quem sabe o que o futuro me aguarda, não?
Contudo, eu gostaria de me focar em outra questão neste momento. Eu tinha vontade de comentar isso faz mais tempo, mas acabei me passando. Num dos posts recentes, um dos leitores me pediu a "real interpretação" do meu texto; ou seja, o que eu queria dizer com ele.
De fato, o autor pode ter muito a dizer com um texto, pode ter planos e expectativas bem palpáveis com ele, mas acho que nem por isso essa seja a única/real interpretação. Muito pelo contrário, é só mais uma. Um dos motivos por que digo isso é que, em muitas ocasiões, o que o autor quer dizer não é necessariamente o que está escrito; são duas coisas diferentes. Muitas vezes eu me surpreendi com interpretações que leitores fizeram com os meus textos; leituras que eu jamais havia pensado. E sabem de uma coisa? Eu gostei. Muitas vezes concordei: "acho que é isso mesmo", pensava. E por que não? Só porque a minha opinião é diferente ela é a certa? Uma coisa é uma interpretação ruim, algo mal entendido, algum evento que escapou à atenção que mudariam a visão da narrativa. Algo completamente diferente de entendimento. Além do que, eu gosto muito quando vários leitores têm interpretações diferentes sobre um mesmo texto. Odiava (e ainda odeio, para ser bem sincero) aulas de literatura em que o professor tenta nos enfiar a "leitura certa" goela abaixo. Me lembro até hoje de uma aula que tive na faculdade, em que a professora estava dando a interpretação de um poema. Eu, sinceramente, achei aquela interpretação muito "longa", muito complexa. Duvidava que, ao escrever, o narrador tivesse pensado naquilo tudo. Para mim a leitura era muito mais simples. Vejam bem, não me lembro mais do poema nem das interpretações, mas disso mej lembro: levantei o braço e compartilhei minha opinião, dizendo o que pensava (que o autor não era esse gênio todo, tinha uma visão muito mais simples do que a professora achava). Aí foi uma das piores coisas que já vi: ela nem respondeu, só baixou os olhos, fez um sinal de negativo com a cabeça e continuou dando aula. Só faltou dizer algo como: tolinho. Aí eu estava acabado mesmo...
Até porque, eu creio que o texto, ao deixar a mesa do autor para ganhar a internet, os livros, ou só um guardanapo mesmo, ele ganha vida própria, autonomia, independência do autor. Num caso mais extremo: um dia o autor vai morrer, e o texto vai continuar. Como aconteceu com "Dom Casmurro", "Dom Quixote", "Crime e Castigo", "O Senhor dos Anéis", etc. Ninguém se preocupa em perguntar para o autor o que ele quis dizer com isso ou aquilo. Ou alguém conhece alguma sessão espírita que incorpore Homero, Virgílio, Fernando Pessoa e afins?
E sabem de uma coisa? Ninguém se importa com o que eles pensavam. Mesmo. Querem ver? Retomando o exemplo: Dom Quixote. O livro era um ataque à corte e a inimigos pessoais de Cervantes (com o nome deles e tudo). Ridicularizava todos eles e sua cavalaria. De acordo com um professor meu: veneno puro. Hoje virou um romance heróico sobre amor e esperança, com pitadas de humor e sarcasmo. Um clássico. E sabem por quê? Porque tinha nesse livro algo que escapava ao mero domínio do autor/narrador. Algo muito maior do que ele, e ganhou vida própria. Outro exemplo: ALice no País das Maravilhas. Esse livro pode ser lido como uma crítica à corte inglesa com apologia às drogas inclusive. A Disney transformou em desenho infantil. E a intenção do autor, cadê? Em qualquer outro lugar. Porque, sinceramente, não interessa. O que interessa é o texto e aquilo que ele nos diz, porque somos livres para ler e pensarmos no que quisermos. Nós, leitores, ajudamos a dar sentido às palavras. Eu, sinceramente, odeio quando sinto que o narrador tenta me levar pela mão e me guiar por todo o texto. Me sinto menosprezado, tratado como idiota. Gosto quando ele me deixa livre para imaginar e voar conforme meus próprios desejos. Muitas vezes, quando vou ler um texto meu, sinto justamente que falta alguma conexão, que só eu como autor consigo enxergar, e lá vou eu trabalhar o texto para garantir que meus leitores vão conseguir extrair alguma coisa dali. Sem, contudo, me meter na leitura deles. Creio que é um balanço delicado, que nem sempre dá certo. Mas eu tento. E quando dá, dá um gosto de ver. Ou ler, no caso.
Alguém aí está de acordo? Não? Que bom que estamos na internet, então. Venha concordar, bater em mim ou ficar em cima do muro :P

7 comentários:

Thiago César disse...

bixo, tu disse exatamente tudo o q eu penso sobre interpretações de texto. jah tive ateh uma discussão com o carlim sobre isso (num foi ele q pediu pela real interpretação nao neh?) heheh!
ouvi alguem dizer em algum canto ae q a partir do momento em q vc termina um texto, ele não eh mais seu. enfim, pra variar, mais uma vez compartilho de sua opinião!
abraço!

Hermes disse...

Compartilho com a tua opinião, em parte. Quase totalmente. A intenção do autor nem sempre é totalmente desconhecida, então por isso, que acho que ela ainda é válida, mas não é a mais importante. Existem MUITAS interpretações sim, e talvez, sejam todas elas certas. Por isso que não fiz letras, porque sabia que iam tentar me empurrar essas interpretações reais. E eu acho isso uma piada. Interpretação real de um poema? Mais idiota ainda. Para mim, literatura é para se sentir, dá para fazer estudos sim, interpretações, mas nunca será apenas uma. E é muito mais importante o que o leitor entendeu do que o que o escritor queria que fosse entendido. E isso é muito complicado.

Sobre a linguagem, voce não deixou nada complicado não. Sou digamos assim,q eu estudioso amador do assunto, e não concordo totalmente. As formas de comunicação são inerentes a qualquer ser vivo mesmo, agora a língua, falada e/ou escrita não acredito que sempre foi do homem não.

Hermes disse...

Era isso sim. Os animais se comunicam, não se comunicam? Só que não com uma linguagem. A linguagem ao meu ver foi uma evolução do homem, que o tornou homem, realmente, o homem da forma que imaginamos, sem ser aquele ser bruto e animalesco. E isso foi um processo lento, que não é uma coisa inventada do nada, é algo que foi nascendo, meio que naturalmente, por causa das novas necessidades.

. disse...

ADOREI esse post. Super concordo contigo, é bem isso que penso mesmo "ao deixar a mesa do autor para ganhar a internet, os livros, ou só um guardanapo mesmo, ele ganha vida própria, autonomia, independência do autor".

Acho mesmo que a magia, a graça, o sabor dos textos está em cada um significá-los de forma distinta, pessoal. É isso que nos faz criar conexão e cumplicidade com um livro, uma história, um conto, um poema ou até desenho.

E, pra constar novamente, boa sorte com o Nihongo no ryoku shiken (meu chapéu!!). Torcerei por ti.

bjs, guri!

CA Ribeiro Neto disse...

Amigo, desculpe-me, tou muito cansado e seu post é muito longo, comento amanha, quando eu postar uma nova imagem no meu!

Abraço

Marina disse...

Eu gosto de textos que não dizem exatamente "the end" e não escrevam a mensagem em letras garrafais; mas gosto que tenham uma mensagem mais ou menos legível. Mesmo que existam outras ocultas pelo meio, gosto de ser acessível e deixar entender alguma coisa de primeira. Isso pode levar a pessoa a ler outras vezes e encontrar surpresas em leituras posteriores.

Beijos.

Giovana disse...

pena que no vestibular eles não pensem assim! xD