quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Suicídios de Amor

Como eu havia prometido, trouxe aqui o conto traduzido para o português (por mim). Para quem quer conhecer mais sobre o autor, Yasunari Kawabata, basta ler meu post anterior, entrar na wikipedia, ou pedir, que pode ser que eu traga mais coisas sobre ele. Sem mais demora, o conto:

Suicídios de Amor
Chegara uma carta de seu marido, um homem que de tanto desprezá-la, a havia abandonado. Aquela era a primeira em dois anos, e havia sido enviada de um local distante do país.
“Não deixe nossa filha brincar com a bola. Eu posso ouvir o som, e ele bate contra o meu coração.”
Ela tirou a bola de sua filha.
Outra carta chegou de seu marido. Essa tinha um selo diferente da anterior.
“Não deixe a nossa filha usar sapatos quando for ao colégio. Eu posso ouvir o som, e ele pisa ruidosamente contra o meu coração.”
Ela deu à filha sandálias de sola macia para usar ao invés dos seus sapatos. A menina chorou e enfim deixou de ir à escola.
Outra carta chegou de seu marido. Fora enviada apenas um mês depois da segunda, mas por sua escrita, ficava aparente o quanto ele havia envelhecido em tão pouco tempo.
“Não deixe nossa filha comer arroz da tigela de porcelana. Eu posso ouvir o som, e ele quebra o meu coração.”
Ela deu de comer à filha com seus próprios hashis como se ela ainda fosse um bebê. E ela lembrou-se de como, quando sua filha ainda era um bebê, o seu marido sentava-se sorridente ao seu lado. A menina foi até os armários e pegou sua própria tigela de arroz sem pedir permissão. A mãe imediatamente arrancou-a de suas mãos e jogou-a violentamente contra uma pedra no jardim. O som do coração de seu marido quebrando. Ela então franziu o cenho, enfurecida, e jogou sua própria tigela contra a pedra. Não era aquele o som do coração de seu marido quebrando? Ela jogou a sua mesinha de jantar no jardim. E aquele som? Ela jogou-se contra uma parede e socou-a com vontade. Arremessou-se como uma lança contra uma parede de papel e rolou do outro lado da partição. E aquele som?
“Mamãe, mamãe, mamãe.”
Ela gentilmente batia nas bochechas de sua filha. A menina veio correndo atrás dela em lágrimas. Ohh – ouça o som!
Outra carta chegou de seu marido. Era como um eco do som. Esta era enviada de um lugar diferente, ainda mais distante que os anteriores.
“Vocês duas devem parar de fazer qualquer barulho. Não abram nem fechem portas. Não respirem. Nem permitam que sequer os relógios façam som algum.”
“Vocês duas, vocês duas, vocês duas…”, murmurando essas palavras, ela chorou copiosamente. E desde então elas não fizeram som algum. Elas pararam por toda eternidade de fazer até o mais ínfimo som. A mãe e a filha morreram.
E, por mais estranho que pareça, seu marido morreu com elas, seu travesseiro ao lado do delas.

6 comentários:

Marina disse...

Então... Ele não a desprezava tanto quanto ela imaginava, não é? Parece-me mais um caso de orgulho extremo. E arrependimento.

Nossa... Fiquei pensando quantas línguas você fala, para traduzir este conto. Gostei muito.
Abraço, Marcelo.

Carlos Vilarinho disse...

E aí? Vi seu comentário lá no meu blog. Realmente tinha tempo que vinha por aqui. É bom que a gente faça a interação, cara. Beleza,
Abraços e apareça...ehehehe
Carlos Vilarinho

Isabella F. disse...

Putz amei o conto..muito mesmo. Obrigada pelo comentário. Espero que volte sempre ^^

http://www.words-of-eagle.cris-design.com/

Isabella F. disse...

te linkei...

naturalmente tricolor disse...

Legal!,a tradução ficou perfeita,mas ainda acho que vc colocou-a um tok pessoal o que deu um charme ainda maior.Muito bom mesmo!Fique bem! Beijos! Nerys

Marilia Kubota disse...

Você traduziu do inglês ? Posso republicar em meu blogue www.micropolis.blogspot.com ?