terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Mito da criação (parte 5)

Em primeiro lugar, perdão pela demora!
Pronto, falei. Agora que tiramos isso do caminho, cabe dizer que tenho pensado muito a respeito do blog, e eu gostaria de transformá-lo em algo mais do que somente um espaço em que eu coloco meus textos e fico esperando comentários. Foi graças ao blog que conheci outros blogueiros muito legais e que hoje acompanho (apesar do lixo ser meio que a norma geral da web, ainda assim tem gente com conteúdos muito bons por aí. Não desistam), e gostaria de tornar o meu algo mais cultural; ter um objetivo algo mais nobre.
A primeira coisa que me passou pela cabeça - já que estou tendo aulas disso - é retomar o assunto da tradução ou do Japão (e quem sabe os dois juntos, não?), que foram tópicos sobre os quais eu gostei muito de escrever e de ouvir (ler) pessoas falando a respeito. Nesse caso, se houver alguém aí (ou já me abandonaram?) e quiser citar algo que queira discutir saber, ou que gostaria de me pedir para traduzir algo (em inglês e em francês fica mais fácil pra mim, mas dependendo do nível, posso tentar o japonês também), me mande um comentário. Vamos "evoluir" o blog. Evolve or die, as they say.
Também estive pensando acerca dos rumos que "Mito da Criação" está tomando - que são completamente distintos do que eu tinha pensado no começo - e no que fazer a respeito. A história, por mais "dirigida" que seja, tem vida própria, e essa já escapou ao meu controle. De repente tenho que dar uns tapas nela pra mostrar quem é que manda. Hoje, aliás, ela deu uma guinada que eu não esperava (apesar de, vendo agora, parecer um tanto óbvia). Espero que a metáfora seja bem entendida.
E então, depois de ficar jogando informação "à la loca", eis:

Mito da criação... 5

Palavra por palavra, as almas iam encerrando-se uma a uma. Suas vozes eram como uma melodia irreconhecível, soando grave e agudo, alto e baixo, em dezenas de tons, seguindo um ritmo próprio e individual.
Páginas e mais páginas haviam se enchido com as lágrimas escuras de pessoas que nunca existiram. De seu futuro, um perfume negro exalava, tomando conta do ambiente e decorando a escrita. Cada expressão usada, cada ação narrada, era uma alma que deixava este mundo para retornar ao papel, agraciando o enredo com sua essência.
Havia, no entanto, uma que recusava a silenciar. Ao contrário, quanto mais de sua história era contada, mais ela erguia a voz, materializando-se diante de Jonathan. Seus lindos cabelos negros escorriam em ésses sibilantes, seus olhos escuros em forma de ós, e suas longas pernas estendiam-se em éle por linhas adiante.
Seu nome era Célia Reimblanc, filha de Gerard e Marie, irmã de Sophie, Clara, Vera e Jean-Luc. Nascera 23 anos antes, em Paris; e sua voz melodiosa, Jonathan descobriu, tinha poder sobre Christian e toda sua fúria. Ele parecia hipnotizado pelos trejeitos daquela mulher – os gestos, os olhares, sua aura meiga e gentil.
Mas onde haveriam eles se conhecido? Enquanto se questionava a respeito, Jonathan pensou discernir, por entre suas dúvidas, uma igreja. Ainda um tanto incerto, passou a descrevê-la em vitrais, bancos, rezas, castiçais, senhores, senhoras e crianças, santos, batinas, dízimo, pobreza e bonança. Em meio a seu texto, conseguiu encontrar a fé em Deus e a esperança, essa eterna busca pelo inalcançável que tanto nos move. Mas nada de Célia e Christian.
O autor apurou os ouvidos e concentrou-se em seus personagens, tentando encontrar pistas sutis que indicassem aquilo que estava procurando – a origem daquele caso desconhecido entre suas criações. Mas como foi que ele e Julia haviam começado?

Do lado de fora, o sol nascia sem pressa; seus raios eram braços que se espreguiçavam, erguendo-se e esticando-se após despertar. Subindo devagar, parecia bisbilhotar o trabalho de Jonathan em seu processo criativo, surgindo sorrateiro pela janela, invadindo o recinto pouco a pouco. Como uma criança que faz algo proibido, a claridade ergueu-se de pouquinho em pouquinho, certificando-se de que não havia ninguém por perto.
Dentro do cômodo, Jonathan sentia uma terrível dor no pulso, e um desejo irremediável de conhecer seus personagens. O sol era apenas uma companhia – silenciosa e agradável – enquanto ele realizava seu trabalho. Não aquele ao qual teria de comparecer dentro de três horas; o real trabalho, de criar e desvendar mundos, dar vida e essência ao barro, erigindo uma civilização com um objetivo claro como piche.
Cada símbolo no papel era uma folha. Uma palavra, um arbusto. Unidas em blocos, eram bosques. E viriam pedras, e fontes e lama e vento e céu e sol – essa luminescência preciosa – e lua e noite e barro. E vida. Sua criação em breve estaria completa, habitada por criaturas de sonho e poder; eram tantas as possibilidades.
E foi então que ele percebeu. Juntando as pistas – haviam elas existido de fato? – ele acordou de seu transe divino e correu até o banheiro para buscar a evidência. Onde estava? Procurou pela pia, na privada, pelo chão. No lixo. Como suspeitava, lá estava. Ele criara vida, sim.
Julia estava grávida.

3 comentários:

Hermes disse...

Essa foi misteriosa..e complexa. Vou ler de novo, mas to gostando do rumo da história. Continue!
E eu seria tradutor se não fosse tão ruim com outros idiomas

Marina disse...

Nossa. Meio confusa essa ligação que ele fez entre sua criação literária e a criação fisiológica. Mas bem interessante. Foi lá ver se havia vida e descobriu que, sim, a vida se fez.

Como será que Christian e Célia se conheceram, afinal?

*Medo de perder outro comentário*

Hermes disse...

Começarei uns cursos para me aprimorar em línguas, mas não sei quando. Agora vou fazer concurso para o TRE mesmo.
Só não posso parar de escrever. Aguardarei aqui a continuação do seu Mito, atualizei agora o meu blog. Abraços.