quinta-feira, 18 de março de 2010

Scarborough Fair

Essa semana, após certo tempo de contemplação, enfim resolvi escrever sobre a música do título (Scarborough Fair). Digo isso por já estar com essa idéia na cabeça há algum tempo, e por achar a história dessa canção muitíssimo interessante e diferente. Ao menos, daquilo que estamos acostumados.
Primeiramente, para deixar bem claro, essa canção não é muito conhecida do público brasileiro, mas é tradicional da Inglaterra e razoavelmente conhecida em países de língua inglesa. Sua origem é desconhecida, mas remonta de alguns séculos, tendo tomado forma mais recentemente, em torno de 1800, contando uma história de amor (?) sobre um homem e uma mulher. Antes de partir para o conteúdo, no entanto, acho interessante falar um pouco sobre sua história.
Como dito antes, sua origem não é muito clara, mas há teorias que remontam para a balada “The Elvish Knight”, que fala de um cavaleiro elfo maligno que tenta seqüestrar uma donzela, Isabel. O nome dela, na verdade, costuma variar m diferentes versões, mas esse é o mais conhecido. Alguns leitores mais antigos desse blog já devem ter reconhecido essa balada do conto que escrevi há algum tempo chamado “Faerie ou Isabela e o Cavaleiro Elfo”. Escrevi-o em duas partes (para quem quiser ler: parte 1 aqui http://visoesnaareia.blogspot.com/2009/04/faerie-parte-1-de-3.html; parte 2 aqui http://visoesnaareia.blogspot.com/2009/05/faerie-parte-2-de-2.html. Recomendo a leitura. Gostei muito de escrever, e acho que gostariam de ler também), tentando dar um contexto à balada e uma motivação para sua criação.
Na realidade, a minha tradução se baseia em versões mais modernas da balada, visto que as mais antigas cantavam de um elfo que dava tarefas impossíveis para uma donzela realizar, levando-a consigo caso ela falhasse. E é nessa versão que se baseia a música.
Prosseguindo com a questão histórica, Scarborough é uma cidade na Inglaterra onde havia esta Scarborough Fair, a Feira de Scarborough. Uma cidade mercante que havia recebido aval do rei, diminuindo-lhe impostos sobre mercadores. Daí ficou instituída essa Feira, da qual diversos comerciantes de distintas e variadas regiões participavam. Hoje ela já não existe mais por ser inviável, mas foi por séculos um dos grandes atrativos da região.
Se pensado no contexto da balada, esse é um fato até passageiro e um tanto irrelevante, visto que a história da canção poderia se dar em qualquer local. Mas como a música se chama Scarborough Fair, e o primeiro verso é: ‘Are you going to Scarborough Fair’ (‘Você está indo para a Feira de Scarborough?’), achei que seria interessante explicar sua origem.
O que me chamou atenção na música, na verdade, além de ser uma balada muito bonita, é a história por trás, que trata sobre o tema do amor, mas sob outro prisma. Todos nós conhecemos histórias de um casal apaixonado que tem de passar por incríveis e dramáticas desventuras para ficarem juntos (sendo Romeu e Julieta provavelmente o exemplo mais famoso desse tipo de história). Na canção, porém, o que ocorre é o contrário. Quem canta a música (originalmente um homem, mas pode ser adaptada facilmente a ambos os sexos) já teve um amor, que está em Scarborough. Isso é dito nos versos 3 e 4 (‘Remember me to one who lives there; she once was a true love of mine’ – algo como ‘Mande lembranças minhas àquela que lá vive; ela fora, outrora, meu verdadeiro amor’). Porém, como já ficou explícito, é um amor que se foi. O que se torna claro, no entanto, é a intenção de um voltar e, do outro, não. Por isso, nas estrofes seguintes, aquele que canta a balada dá ao seu “ex-amor” tarefas impossíveis a serem realizadas. Se ela assim as fizer, poderão se amar novamente. Do contrário, permanecerão separados.
São tarefas que devem ser falhadas, e creio ser este o ponto mais interessante da canção, que desfaz o mito do amor verdadeiro, transformando-o em uma espécie de grave rancor de origem desconhecida. Talvez seja essa a grande questão: por que ele exige essas tarefas impossíveis para não mais ficar com ela? Por que não há mais o amor, e sim o desdém, da parte dele?
Além destas questões de conteúdo, há outros assuntos formais da balada. Por exemplo, o segundo verso de todas as estrofes é uma enumeração de ervas (‘Parsley, sage, rosemary and thyme’ – ‘salsinha, salva, alecrim e timo’), o que, por mais estranho que seja, não é incomum em línguas nórdicas, como Sueco e Finlandês, e até mesmo o Alemão. Como há pouco que remonte à verdadeira origem da balada, sugere-se que seja uma rima alternativa ao refrão original. Ou, conforme me confidenciou a wikipedia, pode ter a ver com a crença pagã de que estes quatro temperos, quando misturados, servem como um feitiço de amor.
De qualquer modo, há ainda outras versões para este verso, como ‘Sober and grave grows merry in time’ (‘Sério e grave se alegram com o tempo’), ‘Every rose grows merry with time’ (‘Cada rosa se alegra com o tempo’), e ‘There's never a rose grows fairer with time’ (‘Não há rosa que se alegre tanto com o tempo’).
Todos esses versos só me fazem pensar que há algo mais por trás de tanto desdém, como algum amor velado ou alguma espécie de sentimento querido, mesmo que ressentido, pela mulher (não) amada. Coloquei abaixo a letra com uma tradução livre (e de minha autoria) ao lado. E, ainda, duas versões da música. A primeira interpretada por Hayley Westenra, do espetáculo Celtic Woman (‘Mulher Celta’), que contém uma estrofe a menos, e a que mais gosto, de Simon e Garfunkel. A versão deles também contém alguns versos contra a Guerra Fria, mas decidi não falar disso aqui para não fugir ao propósito, que é falar da origem dessa canção.
Portanto, ei-la:

Are you going to Scarborough Fair? (Você está indo para Scarborough Fair?)
Parsley, sage, rosemary, and thyme. (Salsinha, salva, alecrim e timo.)
Remember me to one who lives there, (Mande lembranças minhas àquela que lá vive,)
she once was a true love of mine. (ela fora, outrora, meu verdadeiro amor.)

Tell her to make me a cambric shirt. (Diga-lhe para me fazer uma camisa de cambraia)
Parsley, sage, rosemary, and thyme. (Salsinha, salva, alecrim e timo.)
Without no seams nor needlework, (Sem linha nem bordados)
Then she'll be a true love of mine. (E ela será meu verdadeiro amor)

Tell her to find me an acre of land. (Diga-lhe para me encontrar m acre de terra)
Parsley, sage, rosemary, and thyme. (Salsinha, salva, alecrim e timo.)
Between salt water and the sea strands, (Entre água salgada e faixas de mar)
Then she'll be a true love of mine. (E ela será meu verdadeiro amor)

Tell her to reap it in a sickle of leather. (Diga-lhe para colhê-los com uma ceifa de couro)
Parsley, sage, rosemary, and thyme. (Salsinha, salva, alecrim e timo.)
And gather it all in a bunch of heather, (E juntar tudo em um monte de urzes).
Then she'll be a true love of mine. (E ela será meu verdadeiro amor)

Are you goin' to Scarborough Fair? (Você está indo para Scarborough Fair?)
Parsley, sage, rosemary, and thyme. (Salsinha, salva, alecrim e timo.)
Remember me to one who lives there, (Mande lembranças minhas àquela que lá vive,)
She once was a true love of mine. (ela fora, outrora, meu verdadeiro amor.)






quinta-feira, 4 de março de 2010

Pra não dizer que nçao falei de flores...

Prosseguindo com as escassas atualizações do blog, ainda não tenho nenhum novo conteúdo (seja literário, conceitual etc) para postar, mas me vejo no dever de ao menos explicar minha ausência (que agora está sendo, mesmo que de leve, suprida) nos blogs alheios.
Pois bem, fiz a prova, mas não deu. Não passei, apesar do estudo e do sacrifício. Mas para ser bem sincero, eu achei mesmo que não seria esse ano. Que bom que ano que vem tem mais, então. Posso fazer a prova de novo, me preparar melhor, e entreter o consul devidamente (sequer me chamaram pra essa parte; nem pude demonstrar meus dotes, por assim dizer...). Mas sem brincadeiras, fiquei um pouco chateado (saí pra afogar as mágoas com amigos), mas não era algo inesperado. Acho que isso ensina duas coisas (ou mais, dependendo de quem interpretar e de que forma): a primeira é que todos vamos falhar eventualmente, ou ver nossos planos darem errado. A segunda é que, nem por isso, precisamos de desistir dos nossos sonhos. Perdão pelo conteúdo meio melodramático, não costumo ser assim, mas acho que temos que pensar positivo. Algo meio Poliana (polianóide, como diria uma amiga minha). De resto, volta às aulas semana que vem, e volta aos escritos também. E aos comentários, claro. Enquanto isso, fiquem com o meu amigo Tom Sawyer: