domingo, 28 de junho de 2009

O país de Karin

Demorei, mas estou postando um update. Eu queria fazer algo melhor e um pouco diferente (estava pensando em falar sobre kanjis - os ideogramas japoneses), mas preferi colocar esse post aqui como "tapa-buraco" enquanto não escrevo o outro.
Esse é um dos contos mais estranhos que já escrevi (do qual, inclusive, muita gente não gosta). Para ser sincero, eu ainda tenho dúvidas sobre como escrevê-lo, o que fazer para melhorá-lo, etc. Talvez por isso mesmo seja uma boa ideia colocar aqui. Assim o pessoal pode ver e me dar algumas sugestões. Né?
Bom, divirtam-se. Espero semana que vem falar sobre a temida escrita japonesa...

O país de Karin

O país de Karin foi preso naquela manhã, sem mas nem choro. Ele tinha mal e mal uns seis meses; sete quando muito. Foi levado por uns homens vestidos todos de preto. Eles vieram escondidos, sorrateiros e, na calada da noite, levaram-no.
Alguns dizem que virou escravo. Outros, que foi morto. Mas do que não se tem dúvida, é de que sofreu.
Aqueles homens vestidos de preto eram conhecidos por sua crueldade. Ninguém sabia por que levaram aquele país tão jovem, mas deixaram centenas de idosos e crianças desabrigados. Sem pátria, tiveram que se mudar para algum outro país, o que se provou muito difícil. Afinal, país que se preze não deixaria seus filhos com essa gentalha. Se o país já fora preso, imagine o que aquela marginalia seria capaz de fazer.
Mas para algum lugar eles tinham que ir, e um que outro país, que acreditavam na inocência do que fora levado, aceitaram uns aqui, outros ali... E só uns poucos, que não tiveram sorte, ficaram no não-país.
Dez anos depois, ninguém sabe como nem de onde, o país voltou, e foram aquelas crianças, agora mais velhas, que o receberam. Mas ele estava tão desfigurado, tão diferente, que sequer o reconheceram. Alguns por pena, outros por educação, ofereceram-lhe aquela terra, que ele aceitou de muito bom grado. Estava felicíssimo por ter retornado para casa, e mais ainda por não terem perguntado quem era nem de onde vinha; ele não queria nem lembrar o que lhe acontecera naqueles anos todos. O único problema agora eram os antigos moradores, que não estavam gostando nem um pouco de ver aquele país estranho na sua terra. Então, reuniram-se e o mandaram embora.
Alguns dizem que ele foi pra outro lugar. Outros, que morreu. Mas do que não se tem dúvida, é de que sofreu.
Só Karin sabe que hoje, triste e solitário, ele vaga por aí, esperando pelo dia em que poderá voltar para casa. Enquanto isso, ela prepara a água morna do banho e o fogo da lareira, para poderem conversar como faziam na sua juventude.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Minha internet me odeia!

Caros leitores:
Minha internet odeia a mim, à minha alma, e tudo o que há entre elas. Aparentemente, qualquer coisa remotamente relacionada com conexão a cabo é tomado por um ódio incontido e continuado ao meu ser, então expresso na forma de ineficácia, descontinuidade, interrupção, bugs, problemas gerais. Atualmente, só o fato de eu conseguir entrar no site já é uma proeza, que dirá atualizá-lo.
Espero deixar claro que minha ausência holística (internet, e-mail, msn, blog, etc) fique esclarecida com o nome do post.
Boa noite...

terça-feira, 2 de junho de 2009

Rabiscos no caderno

O próximo texto que eu vou postar aqui foi um achado no caderno. Escrevi no início do ano passado durante uma aula muito chata para um conto que eu planejava escrever. Era para ser um exercício de descrição - um esboço, digamos - para o texto subsequente. Pois bem, um ano depois, não é que olhando aquele caderno eu encontro esse excerto? Meio sem esperar, completamente de surpresa, olhei e me lembrei dele na hora. Até aquela hora, eu o havia varrido da memória. Até que foi bom reencontrar. Me deu uma visão mais "distante" da minha escrita. E sabem que achei o resultado positivo?
Bom, como gostei, decidi que iria postar esse excerto aqui (depois de tê-lo lido para minha namorada e ter recebido sua aprovação, claro):

Rabiscos no caderno

Percorrendo os metros finais da mina, Christian era cegado pela luz reconfortante do mundo externo. Quando enfim deixou a escuridão para trás, viu-se diante de uma extensa baía que terminava ao mar. A areia branca refletia o pôr-do-sol tal qual um grande diamante exposto à luz.
Ele caminhou adiante até o limite da terra, em que mar e céu se confundiam de tal forma que ele poderia nadar ou voar sem jamais saber a diferença; até o oxigênio que corria era o mesmo, e ele poderia morrer respirando no mar ou afogar-se nos ventos ao seu redor.
O sol desaparecia no horizonte, morrendo sem nunca morrer, ou surgia, nascendo sem nascer. Habitava um espaço entre o crepúsculo sombrio e a manhã enevoada.
O último lugar da Terra, antes que a realidade subisse numa balsa e se perdesse no oceano eternamente rubro, era habitado por fantasmas de sonhos e de esperanças, que o assombravam com os uivos vazios de um choro seco.
Um rumor de asas enchia o ambiente, e pássaros azuis cruzavam o céu rapidamente, aproveitando os últimos momentos que lhes restavam. Pois Finisterra não é apenas um lugar, é também um quando.